|
Símbolo da RAF, a estrela vermelha com a MP5 |
Boa Tarde Leitores
Irei continuar a falar sobre grupos revolucionários, só que o grupo que dá o nome a esta postagem queria lutar contra o fascismo e promover o comunismo e o anti-imperialismo na Europa, este foi um dos grupos de extrema-esquerda mais proeminentes daquele continente.
A RAF (sigla em alemão de
Rote Armee Fraktion) foi fundada em 1970 por Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike Meinhof e Horst Mahler, nos seus 28 anos de existência, o popularmente Grupo Baader-Meinhof passou por três gerações de integrantes, porém ficou famoso pela série de atendados contra o governo alemão, principalmente os atentados ocorridos em 1977. o Grupo Baader-Meinhof foi acusado durante seus quase 30 anos de existência por 34 mortes e dezenas de feridos.
As raízes da RAF começaram a se desenvolver nos movimentos estudantis nos anos de 1960, quando esta geração conhecida por Baby Boom-crianças nascidas depois da II guerra mundial-viraram-se para diversos casos, como a guerra do vietnã, o uso da energia nuclear e a pobreza nos países do terceiro mundo. Porém, o que não agradava esta massa de estudantes era o fato de o governo da Alemanha durante a Guerra Fria manter ligações com o antigo Reich, tanto que para alguns o governo da alemanha na época era uma continuação do 3ªReich, e isso não agradava os jovens adeptos ao comunismo.
|
Andreas Baader, um dos fundadores da RAF | | |
lguns dos homens e mulheres que viriam a fundar e exercer funções importantes na RAF já tinham envolvimentos esquerdistas anteriores: a jornalista Ulrike Meinhof possuía uma antiga relação com o Partido Comunista; Holger Meins estudava cinema e era um veterano das revoltas em Berlim, seu curta-metragem Como Produzir um Coquetel Molotov tinha sido visto por grandes platéias; Jan-Carl Raspe vivia em comunas há longo tempo; Horst Mahler, já um advogado estabelecido, era um dos líderes dos protestos e marchas contra os jornais de Springer desde o começo e defendia causas pró-direitos humanos. Por suas próprias experiências sócio-econômicas na vida alemã, eles logo seriam profundamente influenciados pelo Leninismo e o Maoismo, depois definindo-se com um grupo marxista-leninista. Uma crítica contemporânea da visão que o Baader-Meinhof tinha do Estado, publicada numa edição pirata do jornal francês Le Monde diplomatique lhes atribuía um 'fetichismo do Estado' - uma leitura obsessiva e ideologicamente errada da dinâmica da burguesia e da natureza e do papel do Estado nas sociedades ocidentais pós-guerra, incluída a Alemanha Ocidental.
|
Ulrike Meinhof, co-fundadora da RAF |
Alguns fatos foram decisivos para a formação da RAF, em 2 de Junho de 1967, o Xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi, faria uma visita à cidade de Berlim, então alguns estudantes resolveram fazer uma manifestação contra a violação dos direitos humandos que ocorriam no Irã, porém as coisas fugiram do controle quando a passeata, inicialmente pacífica, saiu do controle e acabou em violência entre os estudantes, os seguranças do Xá e a polícia alemã, por fim, um estudante chamado Benno Ohnesorg foi morto pela polícia, o policial que causou os disparos, chamado Karl-Heinz Kurras, foi inocentado de todas as acusações.
Entre os líderes dos manifestantes naquele dia, encontrava-se Gudrun Ensslin, uma estudante de literatura alemã e inglesa na Universidade Livre de Berlim que, indignada com a morte de Ohnesorg, discursou aos estudantes dizendo que "a única forma de responder à violência seria com violência". Até então, o monopólio da violência estatal nunca havia sido posto em questão por oposicionistas alemães desde 1945.
No começo de 1968, Gudrun, separada do marido e mãe recente, conheceu Andreas Baader, um carismático militante de esquerda vindo de Munique, onde tinha ficha policial por pequenos crimes comuns, que se tornaria seu namorado. Juntos, decidem alastrar sua contestação ao sistema com algum ato simbólico e deixam Munique em direção à Frankfurt, acompanhados de dois companheiros de militância, Thorwald Proll e Horst Söhnlein. Em 2 de abril, ateam fogo a duas lojas de departamentos da cidade, provocando incêndios sem vítimas mas com grande prejuízo material. Logo após os incêndios começarem, Ensslin telefona pra uma agência de notícias e comunica: "Foi um ato de vingança política!". Dois dias depois são presos.
|
Cartaz da polícia alemã distribuídos apõs atentados cometidos pela RAF |
Todavia, uma semana depois, o mais conhecido orador do movimento estudantil, Rudi Dutschke, amigo de Gudrun mas adepto da não-violência, sofre uma tentativa de assassinato levando um tiro no rosto no meio da rua, dado por um estudante de extrema-direita, Josef Bachmann, e apesar de sobreviver sofre sequelas permanentes até sua morte anos mais tarde, depois de ajudar a fundar o Partido Verde Alemão. Os estudantes colocam a culpa da tentativa de homicídio em Axel Springer e nos jornais da extrema-direita, que a seu ver insuflavam os conservadores contra Rudi, com manchetes como "Parem Dutschke!" e convergem para a sede da Springer AD, a editora dos jornais e revistas do Springer, fazendo uma barreira de carros na porta, impedindo a saída e entrada de pessoas e caminhões de distribuição da empresa e entrando em choque com a polícia. Ulrike Meinhof está lá, anotando o que vê, junto a um de seus jovens editores da Konkrete - Stefan Aust, mais tarde biógrafo da RAF- a revista de esquerda para a qual escrevia e editava, e lhe é sugerido que participe do protesto também usando seu carro como barricada. Ulrike ainda não está certa se quer participar efetivamente das manifestações que ocorrem contra o Sistema mas mesmo assim concorda em colocar seu carro como último veículo das dezenas de automóveis que impedem o acesso à editora. Presa, convence os policiais que é culpada apenas de ter estacionado mal para cobrir a manifestação e é solta. Este foi seu primeiro ato físico contra o Estado. Não seria o último. Em sua coluna na Konkret, escreve: "Se alguém incendeia um carro, isso é um crime comum. Se alguém incendeia centenas de carros, isso é um protesto político".
Os quatro incendiários foram condenados a três anos de prisão por incêndio provocado e por colocarem a vida humana em perigo. Entretanto, em junho de 1969, eles receberam uma condicional temporária, revogada em novembro de mesmo ano, quando foram intimados a reapresentarem-se para cumprir o resto da pena. Dos quatro, apenas Horst Söhnlein acatou a ordem do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, enquanto Baader, Ensslin e Thorwald Proll fugiram para Paris, onde durante algum tempo, com a ajuda da irmã de Thorwald, Astrid Poll, se refugiaram num apartamento de propriedade do jornalista e revolucionário Régis Debray, famoso por sua amizade com Che Guevara e por seus trabalhos teóricos sobre a criação de focos de guerrilha urbana. Dali, eles mudaram-se para a Itália onde foram visitados por Horst Mahler, seu advogado no caso dos incêndios, que os encorajou a voltarem juntos para a Alemanha e fundarem um grupo guerrilheiro, nos mesmo moldes dos Tupamaros no Uruguai.
De volta ao país, vivendo na clandestinidade com Gudrun e com os laços estreitados com Meinhof - a quem pediu abrigo na própria casa e foi apresentado junto com Gudrun às filhas pequenas dela como "tio Hans" e "prima Grete" - Andreas Baader acabou sendo novamente preso numa batida policial portando documentos falsos em 3 de abril de 1970, quando se dirigia, com Astrid Poll, a irmã de Thorwald, já integrante do grupo, para um suposto depósito de armas enterrado num cemitério. Na prisão de Tegel, Andreas foi visitado por vários membros do grupo, disfarçados ou com a identidade própria como Ulrike Meinhof, trabalhando com jornalista. O objetivo de Gudrun era libertar o namorado de qualquer maneira e o plano criado surgiu com a possibilidade levantada de Meinhof - ainda com uma vida normal de profissional reconhecida - conseguir um encontro dela com Baader no Instituto para as Questões Sociais, em Berlim, um local onde presos podiam ter acesso à biblioteca, para uma entrevista e a confecção de um livro com Baader. Mesmo relutante, por entender que a partir dali sua vida de mãe de duas filhas com uma profissão estável chegaria ao fim, Meinhof concordou com o plano. Na data marcada, 14 de maio de 1970, enquanto Baader e Meinhof encontravam-se na sala de leitura, escoltados por guardas, um grupo formado por Gudrun, Astrid, Ingrid Schubert,[24] Irene Goergens e Peter Homann, entrou no local armado, ocorrendo um tiroteio no qual um dos guardas foi ferido e os outros rendidos. Baader e o grupo fugiram pela janela da sala e Meinhof seguiu-os, caindo na clandestinidade.
No dia seguinte, cartazes começaram a aparecer pelo país com a fotografia de Baader e Meinhof e os jornais de Axel Springer traziam a notícia em manchete, chamando o grupo de Gang Baader-Meinhof, pelo qual ficariam popularmente conhecidos. O filme Bambule, com roteiro de Meinhof, sobre a vida de jovens mulheres num reformatório e programado anteriormente para estrear na televisão alemã dez dias depois da fuga, é retirado da grade de programação.[26] Em 2 de julho, o jornal anarquista 833 publica um manifesto do grupo, que assina com o nome oficial de Rote Armee Fraktion (Fração do Exército Vermelho) pela primeira vez.
|
Prisão de Stemmhein |
Mais tarde, em maio de 1972, a RAF comete alguns de seus mais sangrentos atentados: em Frankfurt, Baader, Ensslin, Jan-Carl Raspe e Holger Meins, auto-denominando-se "Comando Petra Schelm", colocam três bombas de efeito retardado no edifício central do QG do Exército dos Estados Unidos na Alemanha. As bombas destroem o lugar e matam um tenente-coronel norte-americano, condecorado no Vietnã. Assumindo a responsabilidade, o Baader-Meinhof emite um comunicado exigindo a fim da colocação de minas pelos Estados Unidos nos portos do Vietnã do Norte. No dia seguinte, Angela Luther e Irmgard Möller colocam duas bombas de retardo dentro da central de polícia de Augsburg deixando cinco policiais feridos. Um carro-bomba é deixado por Baader no estacionamento do Departamento Nacional de Investigações Criminais em Munique e explode destruindo 60 veículos. Por seu lado, Ulrike Meinhof, acompanhada de três militantes - entre eles a estudante secundária Ilse Stachowiak, que se juntou à RAF com apenas 16 anos, coloca seis bombas escondidas em mochilas nos escritórios da editora Springer em Hamburgo. Apesar de serem avisados com antecedência por telefone para deixarem o prédio, as telefonistas não levam a sério a ameaça. Três delas explodem e 17 funcionários da editora são feridos. No dia 24 de maio, as mesmas Möller e Luther que bombardearam a delegacia de Augsburg dias antes, deixam 25 quilos de explosivos dentro de um carro no estacionamento do Comando Europeu Supremo do Exército dos Estados Unidos em Heidelberg. O carro explode, destrói a parede externa do clube dos oficiais e mata três militares instantaneamente, um deles cortado ao meio pela força da explosão. Dois dias depois, o Baader-Meinhof distribui um comunicado assumindo o atentado em "resposta aos bombardeios norte-americanos no Vietnã".
|
Celas dos integrantes da RAF na prisão de Stemmhein |
Portanto, não podemos deixar de citar que o Grupo Baader-Meinhof tentou, em todavia, de acabar com o imperialismo que outras nações, principalmente os EUA, tomassem conta da política alemã, mas infelizmente isso não pode ser feito por meios pacíficos. Em Frankfurt, depois de alertada por moradores da vizinhança de que uma garagem contém explosivos e tem um movimento suspeito, a polícia vigia a área e surpreende Andreas Baader, Jan-Carl Raspe e Holgen Meins ao chegarem. Notando a presença de policiais, Baader começa um tiroteio. Raspe é preso imediatamente no estacionamento. Meins e Baader escondem-se na garagem por horas onde são atingidos por gás lacrimogênio e Baader é ferido na perna. Os dois são capturados perante as câmeras de televisão que chegaram ao local atraídas pelo cerco. Em 8 de junho, em Hamburgo, quase fora de si pela dor da prisão de Baader, Gudrun Ensslin entra numa loja para comprar roupas. Enquanto as experimenta no provador, uma das vendedoras, ao arrumar seu casaco do lado de fora, nota uma pistola nele e chama a polícia. Ela é presa no local. Em 9 de junho, Brigitte Mohnhaupt, uma das mais ativas integrantes da RAF e que lideraria a "segunda geração" da organização, é presa com um companheiro em Berlim. Em Hannover, 15 de junho, Ulrike Meinholf e outro militante, Gerhard Müller, encontram-se hospedados por alguns dias na casa de uma amiga de um dos contatos de Meinhof, que não sabe de quem se tratam mas desconfia do casal e resolve avisar a polícia. A polícia cerca o edifício e prende Muller quando ele sai para telefonar. Depois bate na porta e Meinhof atende. A última integrante da direção da Fração do Exército Vermelho em liberdade é presa, todos foram encaminhados para a prisão de Stammheim.
Portanto, esta primeira geração da RAF foi definitiva para o grupo, chamado de
Baader-Meinhof pelos tablóides alemães nos seus primeiros 7 anos de existência, pois eles definiram exatamente o que é um grupo de guerrilha urbana, que luta pelos seus ideais à sangue, só para poderem garantir uma sociedade mais justa, baseada em ideais comunistas, mas a RAF continuou sua luta pelos ideais anti-imperialistas até o fim definitivo do grupo, em 1998.